A fábrica que começou suas atividades em 1898 deve começar uma nova fase assim que começar a colocar em prática o projeto de restauro e intervenção que prevê a revitalização do conjunto arquitetônico da Wetzel S.A, que fica na área central de Joinville, em uma área de 17.146,76 m², dividida em 17 blocos dentro de um terreno de 26.033,06 m², entre as ruas Senador Felipe Schmidt e Visconde de Taunay. A área a ser restaurada e revitalizada é de 11.628,50 m².
O projeto de intervenção propõe revitalização dos prédios, requalificando os espaços e adequando-os a novos usos, garantindo acessibilidade e atendendo as normas de segurança, com adaptação de escadas e elevadores. “As intervenções internas foram bastante restritas, preservando ao máximo as características espaciais e estruturais dos prédios”, afirma a arquiteta de Jaraguá do Sul Simone A. Mattedi, que é especialista em restauração e conservação do Patrimônio Cultural.
O conjunto de prédios é tombado pelo município de Joinville como patrimônio cultural. O parque fabril apresenta diversidade de edificações construídas de acordo com a expansão da empresa. As edificações tombadas foram construídas do início da ocupação, em 1898, até metade do século passado.
O galpão de 2,4 mil m², onde até 2010 funcionava a Wetzel, abriga o campus da Católica do Estado de Santa Catarina desde março do ano passado. A metalúrgica construiu um novo parque industrial e se mudou para lá. Simone desta que esta área não é de interesse histórico nem do município nem do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Segundo Robert Carlisle Burnett, reitor da Católica, foram investidos até agora, cerca de R$ 10 milhões para abrigar os acadêmicos.
Para poder usar as edificações tombadas depois do restauro, a Católica estima investir R$ 15 milhões. Deste total, R$ 11 milhões foram aprovados pelo Ministério da Cultura e que podem ser captados pela Lei Rouanet por meio do incentivo fiscal de pessoas físicas que fazem declaração completa de Imposto de Renda e empresas tributadas com base no lucro real. Segundo o reitor Robert, se for captado 20% do valor, ou seja, R$ 2,2 milhões, já é possível começar as obras de restauro.
O pastor Tito Lívio Lermen é o assessor institucional da captação do projeto de restauro. Criou a DH Assessoria Educacional e foi chamado pela católica após o bem sucedido projeto de restauro do Centro Cultural Deutsche Schule, atuando na preservação de um edifício que por mais de 100 anos abrigou a Escola Alemã e o Colégio Bom Jesus. “Vamos ter reunião com uma grande empresa para apresentar o projeto. Estamos buscando recursos para um projeto que tem alcance comunitário com biblioteca na cidade de Joinville e outros espaços de uso comum”, revela. Interessados em apoiar este projeto devem procurar o pastor Tito mandando e-mail para [email protected] ou ligando para (47) 9974-5195.
Projeto desafiador
O projeto de restauro da Wetzel foi encaminhado para o Ministério da Cultura em 2010 e foi desenvolvido pela arquiteta Simone Mattedi, que já foi consultora entre 2010 e 2011 do Iphan/Unesco – Preservação Urbana e Desenvolvimento dentro do Plano de Ação das Cidades Históricas na região Norte e Nordeste de Santa Catarina. O trabalho dela foi feito em tempo recorde, em três meses, mas até sair a aprovação pelo Iphan foram mais um ano e meio.
Segundo ela, o projeto contempla a recomposição e restauração de esquadrias, estruturas originais, madeiramento, assoalho, cobertura, alvenarias, reboco e detalhes construtivos. “As edificações foram construídas em diferentes momentos e as construções se sobrepõem, com fachadas ficando para dentro das obras com as ampliações ao longo dos anos. Elas serão recompostas nos trechos agora internos, com recomposição de arcos, janelas e vãos suprimidos”, explica.
Simone lembra que o trabalho consiste em manter o que se caracteriza como bem cultural e como será um prédio de uso público, precisa seguir as normas de acessibilidade e de segurança, sendo necessário fazer intervenções como a construção de escadas novas, ajustar aberturas, fazer passarelas e instalar elevador.
A arquiteta destaca que o projeto tira partido do eixo principal de ligação entre as ruas Senador Felipe Schmidt e Visconde de Taunay, criando uma alameda de ligação entre as ruas, e voltando para os mesmo espaços de uso comum como o teatro, biblioteca, cantina, livraria, capela e museu. O eixo se abre junto a rua Visconde de Taunay formando uma praça e integrando elementos significativos do conjunto, chaminé, casa enxaimel e antiga fábrica de velas. As demais alamedas permitem permeabilidade e acesso a todo o conjunto.
Há poucas instalações fabris preservadas no Brasil
Segundo o Depam (Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização) do Iphan, é extremamente reduzido o número de edifícios e instalações fabris preservados, em especial os que mantém os elementos arquitetônicos estruturantes, tornando o Conjunto Wetzel como uma notável exceção em todo o país. Em Joinville, conta-se uma parte importante da história da indústria no Brasil e o conjunto Wetzel, inserido no Centro de Joinville, é parte deste contexto.
O fundador da parte do complexo que será restaurado foi Friedrich Louis Wetzel, que chegou ao Brasil em 1856, chegou a Joinville nas primeiras levas de imigrantes alemães, cinco anos depois que a cidade foi fundada. Ele criou a primeira fábrica de velas e sabão de Joinville na localidade de Annaburg e estabeleceu sua residência com galpão ao fundo, as duas construídas em estilo enxaimel, em 1898.
O galpão é registrado como único exemplar em enxaimel urbano usado como pequena indústria. Também há, junto a um dos galpões, uma torre enxaimel remanescente, que abrigava a antiga caixa d’água em ferro. A chaminé que é possível ser vista de vários pontos do Centro de Joinville foi erguida em 1920 e atualmente caracteriza-se como ícone da época de apogeu industrial.
O conjunto fabril que tem a fachada na rua Senador Felipe Schimidt tem linguagem eclética, reunindo variados elementos construtivos que resultaram em uma fachada rica demonstrando uma preocupação estética diferenciada para implantações industriais. “Com o uso de tijolos maciços este conjunto fabril apresenta elementos resultantes da utilização de técnica com pilastras, arcos e paredes autoportantes”, explica a arquiteta Simone Mattedi.
A antiga residência da família, que fica na rua Senador Filipe Schimidt, tem remanescentes elementos arquitetônicos como o uso de arcos, ritmo de aberturas, embasamento e volumetria da cobertura. Segundo Simone, o conjunto resultante desta sobreposição e ampliação de estruturas remete a características de uma cidade medieval, formando vielas, esquinas e becos.
História da empresa
Em 1932 surgiu a Schmidt Wetzel & Cia., uma sociedade idealizada por Germano Wetzel com os filhos Arnoldo e Erwino e o sobrinho Wigando Schmidt. A fundição fabricava, em um rancho torneiras de registros de latão. Na década de 50 passam a fabricar produtos para instalações elétricas e mudam de nome, transformando-se em Wetzel & Cia. Ltda. Inge Maria Wetzel da Silva, 70 anos, filha de Arnaldo, conta que tem poucas lembranças da empresa que evoluiu muito nestes mais de 80 anos de existência. “Ia de vez em quando lá, nos finais de semana. Tinha pouco acesso a fabrica da família”, revela.
Inge destaca que onde vai ocorrer o restauro é onde funcionava a Companhia Wetzel Industrial, que começou como uma fábrica de sabão e vela e que, apesar de ser de membros da mesma família, não tinha vinculo com o empreendimento idealizado por Geraldo. “Anos depois, a Wetzel adquiriu as instalações onde funcionou a fábrica de sabão e velas”, revela.
Em dezembro do ano passado, Norberto Cubas da Silva, marido de Inge, deixou a presidência da Wetzel S/A. O filho deles, André Luís Wetzel da Silva, que era vice-presidente, assumiu o comando. “Meu avô fundou, meu pai administrou, passou para o meu marido e agora meu filho está a frente dos negócios”, diz Inge. Atualmente, a metalúrgica conta com três unidades de negócios: eletrotécnica, ferro e alumínio.As construções se sobrepõem, com fachadas ficando para dentro das obras com as ampliações ao longo dos anos. Elas serão recompostas nos trechos agora internos, com recomposição de arcos, janelas e vãos suprimidos”, explica.
Simone lembra que o trabalho consiste em manter o que se caracteriza como bem cultural e como será um prédio de uso público, precisa seguir as normas de acessibilidade e de segurança, sendo necessário fazer intervenções como a construção de escadas novas, ajustar aberturas, fazer passarelas e instalar elevador.
A arquiteta destaca que o projeto tira partido do eixo principal de ligação entre as ruas Senador Felipe Schmidt e Visconde de Taunay, criando uma alameda de ligação entre as ruas, e voltando para os mesmo espaços de uso comum como o teatro, biblioteca, cantina, livraria, capela e museu. O eixo se abre junto a rua Visconde de Taunay formando uma praça e integrando elementos significativos do conjunto, chaminé, casa enxaimel e antiga fábrica de velas. As demais alamedas permitem permeabilidade e acesso a todo o conjunto.
Fonte: Notícias do Dia