O brilho no olhar, o sorriso largo, a alegria estampada no rosto e a vontade de viver. Esses elementos não faziam mais parte da vida de Cassemiro Albuquerque Goulart, 61 anos, e José Souza dos Santos, 44 anos, ambos da cidade de Joinville. Os dois vivem em cadeiras de rodas e estão com a capacidade de locomoção comprometida. Mas essa realidade mudou quando eles começaram a participar do projeto Arte em Movimento, do Instituto Ademar Cesar. Desde 2011, a dupla participa de aulas de pintura. O resultado pode ser visto em uma exposição, no Shopping Mueller, que reúne as obras dos novos artistas joinvilenses.
A vida de José Souza Santos mudou drasticamente há 11 anos, depois de saltar de uma cachoeira, se machucar e ficar tetraplégico. Durante muito tempo, a depressão o acompanhou. Não fazia mais nada. A reviravolta aconteceu quando ele encontrou na internet pessoas que usavam a boca para realizar algumas atividades.
“Resolvi tentar, fiquei oito meses fazendo sozinho”, conta Santos. Depois disso, o projeto Arte em Movimento entrou na vida do artista e o transformou. “É tanta felicidade que eu nem sei como expressar, lá eu esqueço meus problemas, melhorou minha autoestima”, relata. Apaixonado pela natureza, o que Santos mais gosta de pintar são paisagens.
O caso de Goulart é diferente. Desde 2007, ele sofreu três AVC’s (Acidente Vascular Cerebral) e descobriu que sofre da doença de Kennedy, que degenera os neurônios motores no tronco cerebral e medula espinhal. Goulart perdeu os movimentos e fala. Com isso, assim como o colega, entrou em depressão e chorava constantemente.
O artista entrou no projeto depois que uma recepcionista indicou o instituto para a esposa de Goulart, Edna Rosa dos Santos Machado, 62 anos. “Quando o levamos lá, ele se identificou com tudo, com a arte, com as pessoas. A partir daí, não quis mais sair”, lembra a esposa. “Ele voltou a ser uma pessoa feliz, toda sexta-feira, quando vamos lá, é uma felicidade”, comemora. As obras de Goulart retratam a natureza e a água, elementos pelos quais sempre foi apaixonado.
A companheira
Mas não foi somente a vida de Santos e Goulart que mudaram. Edna também começou a fazer aulas de pintura na cidade de Joinville e pegou gosto. Como ficava horas esperando o marido e não tinha o que fazer nesse período, decidiu pedir para que os acompanhantes também pudessem ter aulas.
Ela conseguiu e hoje relata que sua vida também mudou. “Me sinto mais importante pelo reconhecimento, achava que estávamos esquecidos e a arte nos deu outra motivação”, diz. A aposentada até comprou materiais de pintura para poder pintar em casa.
Vocação social
O projeto Arte em Movimento surgiu em 2011, pela iniciativa do artista Ademar Cesar. Ele sentiu que tinha uma barreira impedindo o acesso das pessoas com deficiência à arte. “Sempre me preocupei em fazer algo social”, comenta Ademar .
Foi a partir daí que ele teve a ideia de criar o projeto, oferecendo oficinas de pintura para pessoas com deficiência. No começo, sem espaço, as aulas eram ministradas em supermercados. O projeto cresceu e hoje, com sede própria, o instituto começou a se estruturar. “Colocamos os trabalhos dos dois na exposição porque eles estão preparados”, explica. “É muito emocionante, aprendemos muito com eles”, descreve o artista.
Fonte: Notícias do Dia