Medo de assaltos assombra taxistas nas ruas de Franca


Na noite da última terça-feira, o taxista Sebastião Zeferino Silva, 72, de Patrocínio Paulista, foi morto durante uma corrida. Ele foi esfaqueado no pescoço, chegou a ser socorrido, mas não resistiu. O acusado pelo crime é um jovem de 23 anos que após golpear o taxista fugiu levando a carteira dele e R$ 40 em dinheiro (leia mais em texto nesta página). O crime ocorrido na cidade vizinha reacende o medo que assombra os taxistas de Franca. Embarcar os passageiros sem a certeza de que sairão ilesos é uma preocupação que atormenta esses profissionais.

As estatísticas ajudam a explicar o temor. Um balanço das reportagens publicadas pelo Comércio no último um ano e meio revela que ocorreram em Franca perto de 30 ataques a taxistas no período. Na cidade, existem 200 concessões para o serviço. São quatro cooperativas em atividade e 41 pontos de táxis. É difícil encontrar algum motorista que não tenha sido vítima de assalto. Dos nove entrevistados nesta semana, oito já sofreram um ou mais ataques enquanto trabalhavam.

Na tentativa de se protegerem, os taxistas têm buscado medidas de segurança durante as corridas. Alguns desistiram de trabalhar à noite, quando os roubos são mais comuns. Recusam transportar passageiros em bairros que consideram mais perigosos e não realizam a corrida se suspeitam dos clientes. Evitam atender quem contrata o serviço de telefones públicos porque as ligações feitas de residências e celulares facilitam a identificação e são mais seguras. “Mesmo com experiência, a gente ainda corre muito perigo. Olhar e saber quem pode assaltar é muito difícil”, disse Gerson Seara, taxista há 15 anos.

Gerson é presidente da Centertáxi, que faz em média 12 mil corridas por mês. A central possui 60 motoristas. Desses, mais de 40 já sofreram assaltos. Gerson engrossa essa lista. Foi assaltado três vezes. A última ocorrência foi a mais traumática. Gerson embarcou quatro rapazes na Estação até o Parque do Horto, de madrugada. Quando parou o carro, já no bairro de destino, um dos passageiros começou a dar socos no rosto dele. “Eu sangrei muito no nariz. Quando meus colegas me viram, até acharam que tinha levado facada ou tiro, mas nada disso aconteceu, foi pancada mesmo. Essa foi a última noite que trabalhei. Sofri muito com aquilo lá e aí só faço corridas durante o dia. Fiquei com medo.”


Com seis anos de profissão, Gleyk Teixeira, 29, já foi assaltado quatro vezes. Numa delas, ficou preso no porta-malas do carro por cinco horas. O ataque mais recente ocorreu há 40 dias. Ele recebeu uma ligação no celular de um orelhão e embarcou dois passageiros no Parque Progresso até o Aeroporto às 2 horas. Na hora do roubo, o que estava sentado atrás ficou com a faca no pescoço dele. “O cara me roubou e ainda me chamou de vagabundo porque só tinha R$ 140. Todo mundo trabalha com medo. Nem sempre a polícia está na hora que precisa.”

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Gleyk tentou outras profissões, mas não quer deixar de ser taxista e prefere trabalhar à noite porque é mais rentável. “Durante o dia a pessoa tem ônibus ou mototáxi, à noite prefere o carro. Numa sexta normal, sem show, o taxista que trabalhar das 6 às 18 horas fará 15 corridas em média e vai tirar R$ 210. Eu faço das 18 às 6 horas de 28 a 30 corridas”, disse ele, que lucrou R$ 1.400 no mês passado. “É um risco.”

SOLUÇÃO?
Os motoristas pensam em criar um código ou uma forma de acionar um sistema e comunicar a central se estiverem em perigo, mas a ideia ainda não está formatada. O taxista Robson Paiva, 45, que veio de São Paulo, acredita que a PM poderia contribuir com a segurança se fizesse mais abordagens aos carros que prestam serviço de táxi. “Ao sermos parados, poderíamos dar algum sinal de perigo.”

Major Marcelo Trevisam, coordenador operacional do 15º BPMI em Franca, disse que está à disposição dos representantes dos taxistas para discutir os problemas e planejar ações que coíbam crimes contra a categoria. “Orientamos os motoristas a manterem o letreiro em cima dos carros aceso quando estão com passageiros suspeitos porque durante as corridas eles deixam apagado. Outra medida é anotar o RG dos clientes para facilitar a identificação e inibi-los caso tenham intenção de cometer algum crime.”


Fonte: Portal GCN