A sexta edição do Festival da Mantiqueira atraiu milhares de turistas para São Francisco Xavier, distrito da cidade São José dos Campos, na Serra da Mantiqueira. O evento, realizado durante o fim de semana, é uma parceria entre Governo do Estado de São Paulo, Prefeitura de São José dos Campos e Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
Pelas ruas próximas da região central do distrito, bares e restaurantes na cidade São José dos Campos ficaram cheios de turistas durante os intervalos das palestras. O bate-papo sobre a literatura continuava nas mesas entre amigos e familiares. Na praça era possível ver pessoas lendo livros comprados durante o evento
Izabela Ribeiro estava à vontade sentada num banco, fazendo a leitura de uma obra. “Eventos como esse são importantes para a cultura, é muito maravilhoso reunir bons escritores, boa leitura, lugar lindo e com o clima frio de São Francisco”, comentou a turista.
Quem abriu as atividades literárias nesse domingo (16) foi o escritor Moacyr Pinto, em “Retecendo o Amanhã”. Ele recebeu, na Sala de Palestras, Luís Moraes, Fernando Scarpel, André Freire e Paulo Barja, que comentaram o livro “Tecendo o Amanhã”. Durante a discussão, os participantes puderam sanar dúvidas sobre Filó, um dos personagens principais da obra de Moacyr.
No mesmo espaço, Rita Elisa Sêda fez homenagem à escritora de São Bento do Sapucaí, Eugênia Sereno, que completaria 100 anos em 2013. Sêda descreveu a vida de Eugênia desde a infância na Serra da Mantiqueira e ressaltou a importância do proseado regionalista dela. “A obra de Eugênia Sereno é como se fosse uma sinfonia”, destacou Rita Elisa, comentando ainda que a escritora era musicista.
Braz da Viola e músicos do Vale do Paraíba tocaram nacionais e internacionais na viola caipira. A apresentação foi no fim da manhã no coreto da Praça Cônego Manzi.
Quatro autores lançaram livros no Espaço Cassiano Ricardo, da Fundação Cultural, estande voltado especialmente para escritores de São José dos Campos. Marcus Groza e Charles Lima encerraram as atividades no local com poemas e músicas.
A Tenda Literária ficou lotada logo pela manhã, mais de 500 pessoas foram ouvir “os gigantes” da adaptação literária para a televisão e cinema. Fernando Bonassi, José Roberto Torero e Lauro César Muniz se reuniram para falar das dificuldades e das delícias que é levar as histórias dos livros para as telas.
Lauro César Muniz defendeu a ideia de que as telenovelas tem que reduzir o número de capítulos para melhorar a qualidade do produto. E isso, já é percebido pelas emissoras que andam intensificando a produção de minisséries.
José Roberto Torero falou sobre a liberdade da adaptação, para ele, não se deve respeitar o livro original. A adaptação pode ser livre, pode ser bem mudada, o livro seria somente o ponto de partida.
Fernando Bonassi abordou a entrada da periferia na cultura, que a literatura e o cinema fizeram esta inclusão e que consequentemente as TVs também pegaram carona no assunto. E que esta inclusão mexe com a história do Brasil, como por exemplo o filme Tropa de Elite e Carandiru. Bonassi também retratou as pressões que a indústria cultural acaba fazendo nas adaptações.
No início da tarde, a Tenda Literária abriu espaço para homenagear o centenário de Rubem Braga. A presença do público foi grande para ouvir o debate entre Augusto Mazzi, Humberto Werneck e Ivan Ângelo.
Augusto Mazzi relatou a pesquisa desenvolvida para ele sobre Braga e, que em breve, lançará um livro com crônicas inéditas do escritor.
Humberto Werneck destacou o lado engraçado que Rubem Braga usava nas crônicas. E para Ivan Ângelo, a crônica de Braga tinha um dizer poético: “na crônica, ele encontrava uma forma de escrever poesia.”
Na Sala de Palestras, Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus, conversou com os leitores sobre Prosa e Cinema e destacou a resistência de abordagem de certos temas considerados marginais na literatura como umbanda, samba, morro. Lins falou da importância dos livros. “A literatura é a única arte que é obrigatória no ensino escolar”, enfatizou. O escritor revelou que prepara uma nova obra que contará a história de São Jorge.
O último diálogo do festival foi na Tenda Literária com Reinaldo Moraes e Eliane Robert de Moraes abordando a sexualidade e o erotismo na literatura brasileira. Foram citados escritores como Mário de Andrade e Hilda Hilst, como exemplos sobre o tema.
“Existia no Brasil até pouco tempo atrás o medo de colocar sacanagem na alta literatura”, comentou Eliane, que é professora de literatura brasileira na USP. Reinaldo Moraes, autor de “Pornopopeia”, “Tanto Faz”, entre outros livros onde a pornografia é tema central não se conforma com esse pudor na sociedade brasileira. “Como uma coisa tão banal como o sexo não consegue ser explorado na literatura?”, questiona o escritor, apresentando essa indignação para a plateia.
Fonte: Prefeitura São José dos Campos