Ferraz de Vasconceos sofre com déficit de profissionais da área da Saúde


A aposentada Leni Santana acordou na última terça-feira com uma forte dor de cabeça e com os braços adormecidos. Foi até uma farmácia, mediu a pressão e verificou que estava alta. Imediatamente foi ao Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, e lá começou o seu calvário. “Esperei das 14h até as 16h e me mandaram embora porque não tinha médico”, contou ela, na quarta-feira. “Voltei hoje (quarta-feira) e estou aguardando há duas horas para ver se me atendem”, disse, sem esperança.

A situação pela qual passou a aposentada é corriqueira na maioria dos 45 hospitais estaduais da Grande São Paulo. De acordo com o Simesp (Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo), o déficit de médicos na rede estadual é de pelo menos seis mil profissionais.

No último domingo a reportagem mostrou que na rede municipal o drama é semelhante: faltam 974  profissionais da linha de frente nos dez principais  hospitais sob responsabilidade da Prefeitura de São Paulo.

Segundo o ex-diretor do Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, Joaquim Cecani, 14 médicos abandonaram o trabalho apenas na última semana. O motivo: baixo salário e alta carga horária. Para o deputado estadual Luis Carlos Gondim (PPS), que tem sua base eleitoral nas cidades do chamado Alto Tietê, onde está Ferraz, a falta de médicos decorre do valor pago aos médicos e da falta de um plano de carreira. “Aprovamos uma lei para melhorar os salários e até agora não houve mudança”, diz o parlamentar.


Cid Carvalhaes, presidente do Simesp, diz que o salário médio de um médico do estado é de R$ 3,5 mil. Na rede privada eles recebem, em média, R$ 6 mil. “No caso do plantão de 12 horas, o estado paga R$ 950 enquanto os particulares, cerca de R$ 1,4 mil.”

No ano passado, a Secretaria Estadual da Saúde disse  que estava com dificuldade de fixar médicos nas zonas Leste  e Norte da capital, além das cidades do Alto Tietê e  região da cidade de Franco da Rocha. De acordo com a pasta, faltavam profissionais  intensivistas, anestesistas, psiquiatras e neonatologistas.

Procurada novamente, a secretaria confirma a escassez de médicos na rede estadual, mas não diz em quais hospitais. Em nota, afirma ter aprovado um novo plano de cargos e salários para os servidores da saúde e garante que   a remuneração média dos médicos da rede estadual  é de R$ 6 mil. Segundo a nota, os plantões variam de R$ 785,40 a R$ 1.130,71.

Hospital do Mandaqui fica sem clínico geral das 16h às 20h

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Referência na Zona Norte de São Paulo, o Hospital Estadual do Mandaqui, que atende 30 mil pacientes todos os meses,  enfrenta desde o ano passado a falta de profissionais, sobretudo na clínica médica. Na última quarta-feira, a reportagem visitou o hospital e foi informado na recepção do pronto atendimento que não havia previsão de horário para atendimento por um clínico geral.

O representante de vendas Daniel Diaz, que estava no hospital no bairro do Mandaqui em razão de uma forte dor abdominal, contou ter ouvido que das 16h às 20h o pronto atendimento do  Mandaqui ficaria sem clínico porque os médicos fariam um curso naquele horário. “Fui atendido antes das 16h,  mas me disseram que o retorno com o médico só poderia ser feito depois das 20h porque não havia profissional nesse intervalo de quatro horas”, contou.

A Secretaria Estadual de Saúde disse, em nota, que não procede a informação de que não há clínicos gerais na unidade entre 16h e 20h. “O hospital ainda informa que em nenhum momento interrompe qualquer tipo de atendimento ou permanece sem a assistência de um profissional especializado em clínica geral em seu pronto-socorro”, afirmou.

A secretaria disse ainda que o hospital conta atualmente com 545 médicos em seu quadro.

Diretor registra BO por falta de médico em Ferraz
A aposentada Leni Santana não foi a primeira a denunciar a falta de atendimento no Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. No ano passado, o próprio diretor clínico da unidade, o médico Alfonso Maria Garcia Bittencourt, registrou um boletim de ocorrência  denunciando a falta de médicos no local.

Segundo Bittencourt informou à época,  o hospital na cidade de Ferraz de Vasconcelos estava sem clínico geral, ortopedista e pediatra. No dia da denúncia, o serviço no pronto-socorro chegou a ser paralisado, de acordo com o profissional. Bittencourt disse que  a falta de médicos ocorreu por causa de seguidos pedidos de exoneração. Desde o final de 2012, o denunciante afirmou que quase 70 médicos teriam pedido demissão e novos profissionais não teriam sido recolocados.

Quatro meses depois da denúncia do médico, a reportagem visitou o hospital na última quarta-feira e encontrou pacientes como o funileiro Rubens Coutinho, que desistiu de esperar e foi buscar atendimento em outro centro médico. A Secretaria Estadual de Saúde, entretanto, disse que não procede a informação de que há falta de médicos na unidade, que teria 330 profissionais.

Fonte: Diário de São Paulo