Belmiro Braga: rua da Vila Madalena é a mais cultural de São Paulo


O Centro Cultural Rio Verde quer criar, recriar e propagar

A rua Belmiro Braga, na Vila Madalena, região oeste da cidade de São Paulo, é estreita e recolhida. Quase não se deixa ver.

De um lado, fica a movimentada Cardeal Arcoverde. Do outro, a Luís Murat, conhecida como a rua do cemitério. A ligar as duas, a discreta Belmiro.

Discrição apenas geográfica, diga-se. A rua, seja pelo som de tambores, guitarras ou vozes, seja pelo vaivém de artistas e curiosos, parece cada dia mais cheia de si.


Cheguei à Belmiro Braga para conhecer o Centro Cultural Rio Verde (www.centroculturalrioverde.com.br), um abrigo de plantas e de arte onde tudo soa a liberdade e criação. O espaço, aberto há dois anos por Kiki Vassimon e Guga Stroeter, quer criar, recriar e propagar.

No domingo em que lá estive, o dramaturgo Mário Bortolotto apresentou-se com a banda Saco de Ratos e a atriz Fernanda D’Umbra se arriscou como cantora ao som de um blues que pedia copos de uísque.

Do palco, seguiram todos para o estúdio, localizado ali mesmo. “Gravamos todo mundo que se apresenta. Já temos um arquivo de mais de 300 horas”, diz Kiki, misto de empreendedora e sonhadora acelerada.

O Centro Cultural Rio Verde desconhece seleção por estilos ou tribos. “Isto aqui é um espaço para a experimentação. Aqui, os artistas são artistas, e não produto”, defende. “É um modelo em criação.”

No próximo dia 30, uma festa que começará às 2 da tarde e se arrastará noite adentro, marcará o lançamento da rádio web, onde toda essa música poderá ser ouvida.


Diversos artistas vão se apresentar em forma de concerto. “Aqui tem cerveja, tem churrasco, mas a prioridade é a música. Os músicos têm que ser ouvidos”, diz Kiki

Nesse dia, como de resto sempre acontece, haverá de tudo: jazz, samba, chorinho, MPB e hip-hop. A mistura que se vê ali dentro é, não por acaso, um pouco da mistura existente do lado de fora.

Têm sede na Belmiro Braga a Associação Sambatá (www.sambata.com.br), dedicada a difundir a cultura africana, e a Kolombolo diá Piratininga (www.myspace.com/kolombolo), responsável pela preservação da história das tias baianas paulista.

Na mesma rua, fica a sede paulistana da Eletrocooperativa (eletrocooperativa.org.br), ponto de cultura nascido em Salvador. A entidade, de reconhecida importância, realiza um trabalho de inserção social por meio da música e da tecnologia.

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“Desde que nos instalamos aqui, em janeiro de 2007, trocamos experiências, apoios e fazemos algumas produções em parceria”, diz Lígia Fernandes, que trabalha no Sambatá e faz parte do Kolombolo.

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O samba do Kolombolo é vizinho do Projeto Aprendiz, de Dimenstein

As parcerias a que Lígia se refere incluem não apenas as casas culturais, mas também outros dois vizinhos: o Projeto Aprendiz, de Gilberto Dimenstein, e o Projeto Guri, criado pelo governo do Estado de São Paulo e hoje mantido por uma Associação de Amigos.

Os dois projetos, de viés social e educacional, parecem fechar o círculo que as outras entidades, menores, desenham no chão da rua.

A congregá-los, o Centro Cultural Rio Verde, o primeiro espaço, digamos, comercial da Belmiro.

Será realizada nesse espaço, por exemplo, a festa Catraca Eletrônica, organizada por Dimenstein, no dia 31 de Maio.

Com tamanha reunião de sons e ações, é inevitável que surjam também alguns problemas. Os moradores já procuraram a subprefeitura de Pinheiros para reclamar do barulho.

“A gente tem adequado as coisas para incomodá-los o menos possível”, diz Kiki. “Mas também temos tentado, nas reuniões, fazer com que os moradores entendam que fazem parte de um movimento maravilhoso.”

Curiosamente, ninguém sabe explicar como cada um foi parar ali. Parece que foram todos apenas chegando. E ficando.

Dimenstein, ao abrir o Aprendiz, deu início à revitalização da rua. Mas, no caso do Centro Cultural, por exemplo, a escolha do imóvel deu-se, simplesmente, pelo preço do aluguel.

Haverá um ímã captador de cultura grudado ao asfalto da Belmiro Braga?

 

Fonte: Terra Magazine